sexta-feira, dezembro 29, 2006

Tempo


Certos anos passam por nós como rostos de mestres que nos deixam alguma lição de vida. Para a vida. Pronta para ser usada, sublinhada ou até rasurada (se as experiências sucedâneas assim o demandarem) a partir do primeiro instante em que essa mesma vida recomeça após a pausa dos ensinamentos, das reflexões, das aquiescências; pronta para, se assim optarmos (e pelo contrário), ser simplesmente guardada num diário de memórias ou restrita a uma galeria de arte no subterrâneo da mente, ou esquecida num bolso daquele casaco que nunca mais se vestiu.
Independentemente do transitório destino que lhe dermos, as lições que nos são entregues pelos nossos anos de vida são sujeitas à relatividade espaço temporal e à provável mutabilidade e erosão dos tempos. No fim, a brevidade sobrevoa a vastidão a que a vida se oferece e todos os anos que a compõem serão inexoravelmente parcos para preencher a nostalgia da última despedida, a impossibilidade do retorno às coordenadas que num ano ou mesmo numa dezena de anos, orientaram um percurso.
Também por isso, o tempo de vida é tão precioso. Porque ela é a breve passagem por frágeis pontes de viagens sem regresso; a união e a desunião de laços tecidos na imponderabilidade da existência, no extremo limite de sermos humanos; o clamor ouvido até aos confins da terra; a busca por fim atada aos braços da fadiga; a incompleta revelação no fundo dos espelhos; a dúvida que subsiste no âmago da certeza. E o tempo presente é a dádiva de vida que não devemos ignorar, nem desperdiçar, nem recusar.
E se, nas palavras do poeta, a felicidade pode ser a rua por onde passamos de vez em quando, dá-me a tua mão e acompanha-me sempre. Contigo lá passo. Atravessemos o tempo das nossas vidas por essa rua de luzes secretas, num desvio para a eternidade.

domingo, dezembro 17, 2006

Revelação

Só a ti me revelo, minha confidente de longos murmúrios, de evocações de esperança, de transparências da alma, de suspiros nocturnos, de rumores perdidos por entre a aspereza daqueles que não entendem que o amor não tem margens nem limites. Porque o amor é supremo. E a vida humana é a sua vaga contingência, a eclosão inadvertidamente limitada pela dimensão em que se move.
Só por ti chamo no fim de cada dia, no fundo de cada noite.
Só em ti me encontro: no reflexo das palavras que me dizes, na foz dos teus secretos desejos, na inspiração do teu pôr do sol, no encanto mágico da tua lua que me adormece abraçada a ti, no corpo do teu mar que me inunda e me submerge a inquietude...
Só tu sabes quem eu sou.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Inesperadamente

Inesperadamente, cristais de geada matinal liquefazem-se quando lhes lanço o meu olhar fervorosamente apaixonado por ti.
E as folhas tornam-se lábios percorridos por gotículas de desejo.

sábado, dezembro 09, 2006

Trago-a em mim

A tua luz. Trago-a em mim, no meu céu e em cada pedacinho desses sonhos mágicos que me deslumbram. E com ela, contigo, o encantamento luminoso revelou-se-me na forma mais calorosa e intensa, na sintonia que só tu me trazes, infinitamente brilhante no meu céu. Nesse manto que nos cobre e aconchega, neste Dezembro de imensa luz dentro de mim, porque te trago comigo todo o tempo, quase esquecida de tudo o resto... Num tempo dilatado pelo imperioso desejo de mergulhar na tua luz e amar-te, amar-te, amar-te, até o mar acabar.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Morrer de amor

Morrer de amor
ao pé da tua boca

Desfalecer
à pele
do sorriso

Sufocar de prazer
com o teu corpo

Trocar tudo por ti
se for preciso.

Morrer de amor, Maria Teresa Horta

sábado, dezembro 02, 2006

Esse lugar

Vou a caminho desse lugar sem portão nem janelas para abrir ou fechar. Esse lugar, no fim deste mundo e no princípio de um outro universo que eu não imaginava que pudesse existir. Vou à procura do que encontrei. Vou ter contigo mas já aí cheguei.
Ontem, na parcial escuridão da noite, dei voltas e voltas em torno da tua presença ausente; formei um anel de brilhantes que refulgia na justa medida e intensidade do meu desejo, do meu amor, da tua promessa.
E entre nós as palavras... Ora desenhadas pelos silêncios nocturnos, ora proferidas pelas nossas vozes, que se tornam minúsculas quando irrompem na grandeza deste compasso que nos comanda o peito.
E entre nós a estreita ponte entre o real e o imaginário, entre o sonho e a utopia. E entre a nossa pele, o arrepio contíguo e síncrono com o sentir. E entre a nossas bocas, os sorrisos, os suspiros, os beijos... Âncoras que nos prendem a esse porto de abrigo; a esse teu, meu e nosso secreto lugar.