Sento-me em frente a esta tela. Fixo-a, tal como no dia em que descobri a tua presença a pulsar desse lado e nela vislumbrei o relance do teu olhar.
Hoje, a tua presença está sobretudo deste lado, dentro de mim, e confundo-a comigo própria de tão intrínseca que ela se tornou: simultaneamente à superfície do meu corpo - de tal modo inscrita na minha pele - e nas suas profundezas - tais as raízes criadas na minha mente.
E o amor cresceu como uma árvore iluminada pelo fio do nosso sentir; adquiriu contornos lisos recortados numa superfície infinita de desejo e a espessura maior de um tronco que na sua mais densa natureza nos acolhe, esconderijo quente de folhas que se tocam, ecos do ressoar deste amor.
Deito-me contigo no chão da terra e abrigamo-nos sob um céu de nitidez nocturna. Os nossos corpos queimam de desejo e seguem o rumo da noite ardendo de prazer.
Nesse voo em que tomo as asas dos anjos, encontro-te em cada pedaço do meu céu. E nem a celeste eternidade apagará o crepúsculo em que, ao procurar-te, me encontro.
