segunda-feira, outubro 29, 2007

Hoje

Tantas vezes as minhas palavras não rimam com as do mundo. Tantas vezes me sinto uma estranha neste globo humano em que vivo. Os anos já não decorrem com a lentidão dos meus tempos de meninice. Muito mudou. Muito permaneceu na mesma. Certos dias passam por mim como se daquela criança ainda se tratasse, um ser a desenvolver a mente e os sentidos, a olhar e a tactear a realidade e a nela descobrir maravilhas, mas também misérias humanas. Continuo a guardar no meu reduto interior segredos petrificados, palavras e sentimentos abrigados da incompreensão alheia. O nosso amor, guardo-o também, mas não encerrado no meu ser. Ele extravasa os limites da minha metafísica e ontologia. É ele próprio uma entidade com uma corrente vital e com uma força que me apraz conceber como a do mar, que a ambas nos fascina e que em ondas inunda as nossas vidas duma imensidão libertadora, também comungada pela poesia. É com as tuas que rimam as minhas palavras.Com elas escrevemos versos, com beijos selamos cada poema e o amor acontece. Hoje, tatuada na pele da alma, uma flor simboliza a intimidade dos afectos gerados pelo nosso amor. E ao peito trago a pedra mais preciosa da minha vida: amar-te e ser amada por ti.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Ama-me sempre



Contigo descubro essas alturas em que as montanhas tocam o céu e os pássaros fazem vôos de uma liberdade incansável. Na quietude doce de um entardecer eu desabrocho, porque chegaste junto a mim com a tua luz e com o calor do amor. Como no pedido do Torga, ama-me sempre.

Ama-me sempre, como à flor do lírio
Bravo e sozinho, a quem a gente quer
Mesmo já seco na recordação.
Ama-me sempre, cheia de certeza
De que, lírio que sou da natureza,
Na minha altura eu brotarei do chão.

Miguel Torga, Pedido.