sexta-feira, abril 18, 2008

Musa Ausente

Falta a luz dos teus olhos na paisagem:
O oiro dos restolhos não fulgura.
Os caminhos tropeçam, à procura
Da recta claridade dos teus passos.
Os horizontes, baços,
Muram a tua ausência.
Sem transparência,
O mesmo rio que te reflectiu
Afoga, agora, o teu perfil perdido.
Por te não ver, a vida anoiteceu

À hora em que teria amanhecido.

Miguel Torga

Forma

Este verso sussurra-te a palavra amor.
Fá-lo na lentidão morna com que bebo
Um cálice de leve melancolia,
Enquanto o escrevo.
E fá-lo com o timbre aveludado
Que sonega as arestas que lhe dão forma.
Porque o verso tem-na mas o amor não.
O amor é a própria forma em que tu e eu
Conjugamos o nós.

Preconceito

Voa rumo ao meu peito
Aberto para o teu.
Vem na certeza de que é certo
Este amar que repudia o preconceito.
No nosso abraço sacudimo-lo,
No nosso beijo ignoramo-lo
No nosso sonho espartilhamo-lo.
A nossa condição é amarmo-nos.

quarta-feira, abril 09, 2008

Despedida

O tempo fluiu até à gota da nossa despedida.
Roubou-me dos olhos o teu rosto,
Deixou-me a saudade no coração.
Fiquei só na solidão
E calada no silêncio,
Porque a palavra significa menos
Do que aquilo que sinto.
Meu amor, eu não te minto,
Queria viver contigo num mundo
Onde não contássemos o tempo,
No fundo, onde o tempo não entrasse
Nas contas da vida
E eu nunca te dissesse,
Numa tristeza enternecida,
Adeus ou até logo.