segunda-feira, outubro 29, 2007

Hoje

Tantas vezes as minhas palavras não rimam com as do mundo. Tantas vezes me sinto uma estranha neste globo humano em que vivo. Os anos já não decorrem com a lentidão dos meus tempos de meninice. Muito mudou. Muito permaneceu na mesma. Certos dias passam por mim como se daquela criança ainda se tratasse, um ser a desenvolver a mente e os sentidos, a olhar e a tactear a realidade e a nela descobrir maravilhas, mas também misérias humanas. Continuo a guardar no meu reduto interior segredos petrificados, palavras e sentimentos abrigados da incompreensão alheia. O nosso amor, guardo-o também, mas não encerrado no meu ser. Ele extravasa os limites da minha metafísica e ontologia. É ele próprio uma entidade com uma corrente vital e com uma força que me apraz conceber como a do mar, que a ambas nos fascina e que em ondas inunda as nossas vidas duma imensidão libertadora, também comungada pela poesia. É com as tuas que rimam as minhas palavras.Com elas escrevemos versos, com beijos selamos cada poema e o amor acontece. Hoje, tatuada na pele da alma, uma flor simboliza a intimidade dos afectos gerados pelo nosso amor. E ao peito trago a pedra mais preciosa da minha vida: amar-te e ser amada por ti.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Desta vez vou escrever-te um poema que vai ser
um poema de amor, mas que não é apenas um poema de amor. O
amor, com efeito, é algo que não cabe num poema; pelo contrário,
o poema é que pode caber no amor, sobretudo quando te abraço, e
sinto os teus cabelos na boca, agora que a tua voz me corre pelos
ouvidos como, num dia de verão, a água fresca corre pela
garganta. A isto, em retórica, chama-se uma comparação; e pergunto
o que é que o amor tem a ver com a retórica, ou por que é
que o teu corpo se teme de transformar numa metáfora - rosa,
lírio, taça, qualquer objecto que tenha, na sua essência, um
elemento que me possa levar até ele, como se fosse preciso, para te tocar,
substituir-te por uma outra imagem, ver em ti o que não és,
nem tens de ser, ou ainda transformar-te num lugar comum, que
é aquilo em que, quase sempre, acabam os poemas de amor. Assim,
este poema de amor é, mais do que um poema de amor, um
exercício para escrever um poema de amor - mas um poema de amor
a sério, sem comparações nem metáforas, só contigo, com o
teu corpo, com a tua voz, com os teus cabelos, com aquilo que é
real, e não precisa de sair da realidade para se tornar objecto de
um poema de amor em que o amor, finalmente, deixa de ser
o objecto único do poema, que se preocupa acima de tudo com
a retórica, as imagens, o equilíbrio das formas. Mas, pergunto, não
é o teu corpo uma flor? Não é a tua boca uma rosa? Não são lírios os teus
seios? Tudo, então, se transforma: e o que tenho nas mãos é uma imagem,
a pura metáfora da vida, a abstracta metamorfose das emoções. O resto, meu amor, és tu - e é por isso que o poema de amor que te escrevo não é, finalmente, um poema de amor."

Nuno Júdice


(Tu, sim, és o meu poema de amor!)

2:24 da manhã  
Blogger Helen said...

lindo texto... talvez a beleza venha pela identificação com suas palavras, que tocaram minh'alma.
Beijos.

4:41 da tarde  

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