Frémitos e flutuações
Este cristal, a que chamamos a esfera da vida, longe de ser frio e duro ao tacto é feito de uma frágil bolha de ar. Se a comprimir, rebenta. Qualquer frase que se extraia, inteira e intacta dessa esfera, é apenas uma enfiada de seis peixes que se deixaram apanhar enquanto milhões de outros peixes se me escapam entre os dedos e enchem a esfera com os seus frémitos de prata. (...)
E, no entanto, a vida é agradável, amena. Terça-feira vem depois de segunda. A seguir é quarta-feira. O nosso espírito desenvolve-se por anéis, a identidade fortalece-se e a própria dor é absorvida nessa sensação de contínuo crescimento. As válvulas de segurança do espírito abrem-se e fecham-se com intensidade crescente; a pressa e as febris sensações de juventude encontram a sua aplicação e tudo parece funcionar com a perfeição de um relógio. Com que rapidez a corrente da vida nos transporta de Janeiro a Dezembro!
Somos arrastados pela corrente das coisas, que se tornaram tão familiares que já não nos apercebemos da sua sombra. Flutuamos. Flutuamos, na superfície da corrente.
E, no entanto, a vida é agradável, amena. Terça-feira vem depois de segunda. A seguir é quarta-feira. O nosso espírito desenvolve-se por anéis, a identidade fortalece-se e a própria dor é absorvida nessa sensação de contínuo crescimento. As válvulas de segurança do espírito abrem-se e fecham-se com intensidade crescente; a pressa e as febris sensações de juventude encontram a sua aplicação e tudo parece funcionar com a perfeição de um relógio. Com que rapidez a corrente da vida nos transporta de Janeiro a Dezembro!
Somos arrastados pela corrente das coisas, que se tornaram tão familiares que já não nos apercebemos da sua sombra. Flutuamos. Flutuamos, na superfície da corrente.
Virginia Woolf, em As Ondas.
Imagem: Rasgadas pela luz - Paulo João (em Olhares.com)
6 Comments:
Virginia Woolf - e basta. Inigualável...
Um beijo
Sem dúvida! E com um estilo literário muito à medida da sua prodigiosa imaginação, em que o real e o imaginário se complementam numa leveza poética!
Beijos
A vida é mesmo uma flutuação, meu rasto_______________Cõllybry
Por entre tanta flutuação, às vezes também sabe bem mergulhar nas profundezas...
Quando oiço este som recordo-me sempre que um dia se apercebeu das sombras e deixou de flutuar.
Pautou as suas telas de impressões vívidas e palavras poderosas e foi uma prazenteira companhia minha em muitas noites e dias.
O QUE É UM FRÊMITO SEM AS PALAVRAS !
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